A acedia. Aspectos históricos, conceptuais e terapêuticos
Apesar de seus antecedentes e evolução histórica, o conceito de acédia é determinado decisivamente pela experiência originária narrada pelos ermitas e monges cristãos do século IV. Não obstante, confrontada com esta forma peculiar de abatimento e desânimo, a conceptualização canónica tendeu a enaltecer não só a sua dimensão patológica mas também as suas associações com a preguiça e a sonolência culposa. Contudo, essas associações semânticas, em parte decorrentes de imperativos organizacionais do monasticismo, com vertentes preventiva, reintegrativa e punitiva, tenderam a obscurecer a relação e a sequencialidade que particularizam a acédia. Só o reconhecimento das reconfigurações da autorreferencialidade no cerne do que se afigura como um problema vocacional permite equacionar o surgimento de figuras modernas da acédia. Se tal condição tiver um sucedâneo moderno, distinto dos síndromes de depressão e ansiedade, importa também esclarecer que recursos podem ser mobilizados para o seu tratamento.
Uma conversa com Cláudio Carvalho sobre a Acédia, 2 de Maio 2019, 21h, no Espaço Musas (Rua do Bonjardim, 998).
* Cláudio Alexandre S. Carvalho é Doutor em Filosofia pela Universidade de Coimbra (2012). Foi Ouvinte Convidado da Humboldt-Universität zu Berlin e Professor Auxiliar Convidado da Universidade da Beira-Interior. Tem dedicado a sua investigação ao estudo das bases filosóficas da terapia partindo do horizonte da Teoria dos Sistemas. É membro do Instituto de Filosofia (Universidade do Porto), integrado no RG “Aesthetics, Politics & Knowledge”. Em seu pós-doutoramento explora a “A melancolia e a constituição do medium terapêutico”, financiado por uma bolsa de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.